Estudo avalia mineração de ouro na Amazônia

15/09/11

Cerca de dez cientistas – maioria de antropólogos – estão envolvidos em pesquisas do projeto Gomiam com a finalidade de compreender conflitos causados pela mineração de ouro em pequena escala em cinco países da região amazônica (Bolívia, Brasil, Colômbia, Peru e Suriname). A primeira fase do projeto, de 2011 a 2013, será dedicada a analisar comparativamente diferentes situações políticas e ambientais das populações locais e dos próprios mineiros.
 
Marieke Heemskerk. Foto: Gomiam

“Sem entender relações sociais não há como colocar a informação em contexto”, diz a antropóloga Marieke Heemskerk, que faz pesquisas no Suriname. “Por isso queremos saber quem está envolvido na mineração de pequena escala, como os vários grupos das aldeias e arredores estão envolvidos, quais são seus interesses e o que pensam uns dos outros”, diz. De acordo com a antropóloga holandesa Marjo de Theije, que teve a ideia do projeto, o foco na bacia Amazônica é importante porque a mineração de ouro em pequena escala enfrenta uma série de graves problemas ambientais que afetam os ecossistemas em escala global, mas que também traz grande benefício econômico.

Ela explica que a mineração de ouro é uma das mais importantes atividades econômicas na região e corresponde à subsistência de aproximadamente 12% da população do Suriname. “Peru é quinto produtor mundial de ouro, ao passo que Bolívia, Brasil, Colômbia e Suriname estão entre os top trinta. Além disso, a abertura de grandes minas (Yanacocha no Peru, Gros Rosebel no Suriname) e o aumento expressivo no preço do ouro elevou a produção na maioria dos países da América do Sul”, afirma. Segundo Marjo, em 2008 a produção de ouro registrada nos cinco países foi de quase 300 mil quilos, cifra que não inclui a maior parte do ouro produzido pelos mineradores de pequena escala.

Conquistas sócio-ambientais ameaçadas

Suriname

Marieke começou a primeira fase da pesquisa há um mês na comunidade mineira de Brownsweg, situada no distrito de Brokopondo, a cerca de 100 km ao sul da capital, Paramaribo. Seu pesquisador adjunto é o engenheiro de minas Ramon Finki. Ele analisa a parte da pesquisa referente à mineração, juntamente com os alunos da Universidade Anton Kom, do Suriname. “Nós registramos métodos, técnicas e custos operacionais de empresas que trabalham com mineração em pequena escala para saber se é possível minimizar os custos operacionais. É difícil descobrir o rendimento exato de cada uma. Também iremos analisar a poluição ambiental da água e do solo”. Neste país, cerca de 20% a 30% dos homens adultos trabalham com mineração de ouro em pequena escala.

O que o projeto diz sobre os outros quatro países

 

 
Mapa da região estudada no Brasil. Imagem: Gomiam
Bolívia

“Bolpebra é uma pequena aldeia no nordeste da Bolívia (província de Pando). Recentemente, a mineração informal de ouro em pequena escala tem se expandido e a população relata a ‘invasão’ de peruanos no território que, juntamente com imigrantes brasileiros e mineiros bolivianos, formam acampamentos internacionais de 35 mil a 40 mil mineiros. A região apresenta um número considerável de casos de malária e dengue”.

Brasil

“Tapajós é a região de mineração de ouro mais importante do Brasil. Hoje em dia cerca de 20 mil mineiros trabalham na região, produzindo de 20kg a 30 kg de ouro por dia. Tanto a produção em larga como em pequena escala foram afetadas por uma decisão do governo federal em 2005 que limitou o uso da terra nos arredores da BR 163. Parte do território foi declarado área protegida para a conservação da natureza. Apesar deste novo contexto legal, a mineração em pequena escala continua, mas de forma não legalizada”.

Colômbia

“Oro Verde é um projeto-piloto de mineração certificada, que diferencia o ouro e a platina extraídos de forma responsável para que sejam vendidos como metais ecológicos e parte de um comércio justo. A iniciativa atualmente conta com cerca de 700 garimpeiros artesanais certificados da população afro-colombiana local, que protegem 4.500 hectares de floresta tropical. Apesar do sucesso Oro Verde, para que um mineiro seja certificado é necessário que sobreviva da mineração artesanal ou que tenha a mesma concessão de mineração exigida das grandes corporações mineiras”.

Peru

“A área mais importante de mineração informal de ouro em pequena escala no Peru está localizada na província de Madre de Dios, onde a mineração interage com a conservação da natureza e com o início da infraestrutura na Amazônia. No entanto, na última década, a invasão de imigrantes mineiros e trabalhadores pobres dos Andes têm tornado a situação crítica e insustentável. A situação foi agravada pela construção da Rodovia Interoceânica, que liga a capital regional de Puerto Maldonado à costa do Peru e à fronteira brasileira. O fácil acesso gerou uma nova corrida do ouro de magnitude que vai além da capacidade de controle das autoridades locais do Estado”.


Impactos de mineração

 

 
Mineiros bolivianos. Foto: Gomiam
A técnica de mineração de ouro tem inúmeros impactos ambientais, como turvação do rio, contaminação de mercúrio, assoreamento do rio, poluição por drenagem de ácidos das minas, degradação da terra e erosão do solo, desmatamento e redução da paisagem. Os danos têm impacto na saúde humana e na biodiversidade – sua perda impacta comunidades locais.

No Suriname, por exemplo, não há acesso a água potável do rio e riachos e há perda de área de solo agrícola. A subsistência encontra cada vez mais dificuldades. A qualidade dos peixes é afetada pela água turva e a poluição dos rios com mercúrio faz com que os peixes apresentem altos níveis do metal, ameaçando a saúde da população. Os pesquisadores descobriram altos níveis de mercúrio em mulheres indígenas Wajana da aldeia Apetina, no rio Tapanahony, sul do Suriname. Durante as operações de mineração, muitos conflitos surgem entre os mineiros, moradores das aldeias, governo e grandes empresas de mineração de ouro em larga escala.

Fonte: ((o)) Eco Amazônia

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