Rio Grande do Norte precisa de porto para receber navios maiores

07/11/11

A Susa Mineração, companhia instalada em Cruzeta, na região Seridó do Rio Grande do Norte, anunciou na semana passada a intenção de investir R$ 700 milhões no estado e de construir um porto para ampliar a capacidade de embarque da produção extraída no interior, nos próximos anos. Os planos foram formalizados, em protocolo assinado com o governo, pouco mais de um mês depois de ter realizado a primeira exportação, um carregamento de 31 mil toneladas de minério de ferro que seguiram para o mercado chinês via Porto de Natal. A operação é um dos pontos que o gerente jurídico e de relações institucionais da mineradora, Eduardo de Abreu Sodré, aborda nesta entrevista, em que também fala sobre o apetite da empresa e de como ele exigirá a expansão da infraestrutura disponível hoje. O executivo comenta ainda as possibilidades de investimento em municípios como Porto do Mangue – que poderia reduzir tempo e custos da operação – ou mesmo em Natal, na margem esquerda do Rio Potengi.

A Companhia Docas do RN (Codern), que administra o Porto de Natal, tem um projeto nesse sentido e já sinalizou que está de olho na mineradora como potencial parceira. Mas não há qualquer definição sobre isso, diz Sodré. “Só teremos qualquer definição a respeito do projeto, de onde será executado, após a realização de estudos”, pontua. Confira os principais trechos da entrevista:

A empresa assinou um protocolo de intenções com o Governo, prevendo investir R$ 700 milhões no Estado. O que, exatamente, deve ser feito com esses recursos?
No protocolo que foi assinado com a governadora, colocamos o que devemos investir no projeto, mas definitivamente o que vai ser adquirido, em que será investido esse dinheiro, só vamos saber depois que tivermos todos os estudos geológicos da nossa reserva e todos os estudos de viabilidade, no que tange ao porto. Um dos pontos desse protocolo foi o porto. Existe a possibilidade de ele ser implantado em Porto do Mangue, mas a decisão da localização e todas as definições vão vir a partir do plano de viabilidade técnico-ambiental que vai ser feito.

Em que fase estão esses estudos? Já foram iniciados?
Os estudos geológicos da nossa reserva já estão sendo feitos. A sondagem está sendo feita na nossa área, que fica em Cruzeta, e nas redondezas. A empresa já está investindo nisso. Essa sondagem vai determinar qual é a reserva que nós temos. No primeiro semestre de 2012 já vão ser desenvolvidos todos os estudos para criar o plano de viabilidade técnica e ambiental para saber o melhor local do porto e tudo o que envolve o desenvolvimento desse porto.

Quando a sondagem começou?
O nosso projeto foi iniciado com os atuais sócios em agosto de 2010. Desde esse período estão sendo feitas sondagens a diamante, que tem o ritmo devagar. Mas iniciamos este ano um tipo de sondagem chamada RC, que é muito mais rápida. Estamos adiantando a análise da nossa área para ter resultados mais rápido. Fazer sondagem num projeto mineral é essencial, para saber exatamente a reserva que a gente tem, para poder programar a vida útil da mina.

Vocês esperam estar, até o final do primeiro semestre de 2012, com todos esses estudos concluídos?
Esperamos até o final do primeiro semestre de 2012 ter os estudos concluídos para poder ter uma decisão do que vai ser melhor. Porque falamos em um porto em Porto do Mangue, mas o primeiro embarque que fizemos de minério fizemos via Porto de Natal. Já discutimos a possibilidade de ampliação do Porto de Natal para a margem esquerda do rio. O que também requer uma série de estudos. Os estudos serão feitos no primeiro semestre. Mas quando efetivamente ficarão prontos vai depender de todas as esferas envolvidas.

Mas a empresa faz estimativa de quando gostaria de estar com esse porto em operação?
Não. A estimativa que temos realmente é de conclusão dos estudos no primeiro semestre de 2012. Com os estudos é que a equipe técnica vai determinar como vai ser feito. A partir dos estudos teríamos realmente estimativas.

O Governo do Estado, numa gestão anterior, já cogitava a possibilidade de implantação de um porto em Porto do Mangue, para escoar minérios. Por que vocês também aventaram essa possibilidade? Tiveram acesso a algum estudo?
Os sócios da nossa empresa e os nossos consultores já sabiam da existência dessa possibilidade (de o governo estar vislumbrando a abertura de um porto no município). A informação já era pública. Mas a decisão de ser em Porto do Mangue ou não vai ser tomada só com os estudos.

O investimento foi anunciado após a empresa iniciar os embarques pelo Porto de Natal. Vocês viram que a estrutura do Porto não atenderia a demanda e por isso decidiram apostar num projeto próprio?
Na verdade ainda existe a possibilidade de a empresa continuar usando o Porto de Natal. Estamos usando o porto de Natal. Conseguimos fazer o embarque. Um problema são os custos que estamos tendo no Porto. Mas estamos negociando para reduzi-los. E também para a etapa futura do nosso projeto, em que queremos atingir de 3 milhões a 5 milhões de toneladas/ano. Atualmente estamos fazendo carregamentos pequenos. Temos uma programação de fazer mais três carregamentos de 30 mil a 35 mil toneladas até o final do ano. Numa primeira fase, como discutimos no protocolo com o governo, queremos atingir 1 milhão de toneladas/ano e numa segunda fase de 3 milhões a 5 milhões de toneladas/ano. Então até para atingir essa primeira fase de 1 milhão de toneladas/ano o porto precisa aumentar o calado. Com o calado atual só podemos embarcar navios de 30 mil a 35 mil toneladas. Com o calado maior – o ideal seria 12,5 metros – a gente já conseguiria trazer navios de 50 mil a 70 mil toneladas. O que para a gente seria ótimo porque faríamos embarques maiores. Dependemos muito do Porto de Natal. Então existe essa possibilidade – de aumento do porto – e existe a possibilidade de um outro porto. Queremos manter as operações no estado e existem essas duas possibilidades.

Qual é a logística de exportação hoje? Qual é o percurso que o minério faz da mina até ser exportado?
São 257Km. Feitos por caminhões até o porto. E do porto fazemos o carregamento do minério para o navio, para exportar.

É uma logística considerada complicada?
É complicada por envolver um transporte rodoviário. O que mais a gente quer desenvolver agora é essa questão interna do porto. Os custos e a ampliação. Para atingir 1 milhão de toneladas/ano a gente realmente precisa de um porto que possa receber navios do tamanho que a gente precisa.

Qual é o custo para exportar com a infraestrutura e a logística que existem hoje?
Não podemos divulgar essas informações porque são definidas por contrato. Não podemos divulgar pela confidencialidade que temos com os nossos parceiros. Mas, na verdade, também não existe um número ainda bem definido. Como fizemos um embarque só, estamos numa fase muito inicial da exportação, ainda não criamos um número exato. Foi feito um primeiro embarque e esse embarque, o carregamento, a logística, estão sendo aprimorados a cada dia para reduzir custos e atingir um nível de excelência no transporte e no carregamento do minério.

Para que o Porto de Natal atinja a capacidade de que vocês necessitam, não seria preciso adiar o plano de aumentar o volume exportado?
Por enquanto, nossa previsão para os três carregamentos que prevemos para este ano e para o do ano que vem, vamos continuar fazendo embarques com esse tipo de navio que está autorizado a entrar no Porto de Natal, com 30 mil a 35 mil toneladas. Queremos chegar até o final do ano com três carregamentos. No primeiro trimestre de 2012 queremos ter um navio por mês, depois no segundo trimestre dois navios por mês, no terceiro e no quarto trimestres queremos manter três navios por mês. Durante esse período, se o Porto de Natal conseguir que possamos usar navios maiores, vamos manter essa programação, só que aumenta a quantidade de minério. Nosso objetivo é atingir na primeira fase do projeto 1 milhão de toneladas/ano.

Vocês pretendem atingir esse volume em quanto tempo?
Nossa programação é de atingir até o final do ano de 2012, sendo que para que isso seja possível contamos com que o Porto de Natal providencie a ampliação do seu calado para receber navios de capacidade de 50 mil a 70 mil toneladas e redução de taxas. Durante o ano de 2012 serão feitos os estudos de viabilidade e poderemos ter a programação para a segunda fase do projeto. O tamanho dos navios é decisivo para que possamos ter economia de custo e de tempo.

A empresa já cogitou fazer essa operação através de outro Estado, como a Mhag fazia?
Foram feitos estudos no início do projeto. Mas os sócios, desde o início, acreditaram no Porto de Natal e preferiram usá-lo a usar portos em outros estados. A ideia é valorizar o estado e o que tem a oferecer.

Mas o custo pesou também? Seria mais caro exportar por Estados como Pernambuco e Ceará?
A questão dos custos é uma discussão interna com cada porto. Mas a gente discutiu, fez análise prévia dos outros portos, mas desde o início a vontade dos sócios era manter tudo em Natal. Foi uma decisão que envolveu logística e o desejo de manter tudo no estado, pelo fato de estarmos instalados no Rio Grande do Norte.

O presidente da Codern declarou que o investimento, em Porto do Mangue, seria inviável. Que o custo de implantação iria além de R$ 700 milhões. Como a Susa enxerga essas declarações?
A conclusão sobre a possibilidade do uso de Porto do Mangue ou não vamos ter por estudos de viabilidade. Mas, com o investimento na margem esquerda, se aumentarem o calado do porto, se atingirem as nossas expectativas, no que a gente precisa, a gente manteria as operações em Natal. Mas é uma questão de análise do que se encaixa melhor nas necessidades da empresa.

Há possibilidade de a empresa fazer o porto por meio de uma Parceria Público-Privada? Vai considerar isso na hora de fazer os estudos?
Uma coisa é o protocolo que assinamos com a governadora. Outro ponto é o desenvolvimento do porto de Natal, da Codern. A Codern está interessada na ampliação do próprio porto, para que continuemos usando o porto. Se a produção aumentar como esperamos, vamos ter que escoar de alguma forma. Então também estamos interessados na ampliação. Agora, detalhes de como vai funcionar a ampliação de como vai ser formalizado não temos agora. É uma outra fase de conversa. Uma fase lá na frente. A única certeza que temos é o protocolo que assinamos.

Ainda é cedo para falar em PPP então…
Não foi nada discutido ainda. Não existe nada formalizado. Só o protocolo com a governadora.

É um complicador o fato de o Porto de Natal estar no meio da cidade? Isso traz alguma dificuldade para a empresa?
Se a empresa fosse criar um cenário ideal seria não passar por dentro da cidade. Agora, isso não impede que a gente continue fazendo o carregamento.

Fonte: Tribuna do Norte

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